Evangelizar é uma palavra forte. Embora a sua origem esteja directamente relacionada com o cristianismo (significa levar a palavra de Cristo a alguém) há muito que transbordou essas fronteiras para ser sinónimo de convencer alguém de alguma coisa pela paixão, força e obstinação dos argumentos.
Recentemente uma amiga fez-me esta pergunta, na sequência da minha conversa sobre ser possível mudar, realizar sonhos e construir a vida que se quer, começando com o que se tem. E nem estávamos numa sessão de coaching. Era uma conversa informal entre duas amigas onde para cada obstáculo que ela partilhava eu encontrava possibilidades.
A verdade não científica é que trabalhar em coaching já alterou profundamente a estrutura química do meu cérebro. Quem me conheceu entre os 15/18 anos é testemunha, toda a minha existência era um íman de negatividade. Banda preferida? Joy Division seguidos de todo o post-punk animado da altura passando pelo gótico e pelo metal. Literatura? Orwell, Steinbeck, Bronte… Poesia? Tragam o Cesário, a Florbela ou a Plath. Maiores heresias dos outros: não sofrerem, não pensarem e usarem cores fluorescentes. Honestamente, entre dias encerrada no quarto a meia luz, guarda roupa monocromático, botas da tropa e lágrimas a minha adolescência comportou toda a depressão possível para mais do que uma vida.
Não tenho uma história de descida aos infernos, não superei nenhuma doença grave (a menos que consideremos a depressão — o que eu própria não considero), não vi a luz nalguma religião estranha (embora tenha ligado alguns candeeiros pelo caminho), nada que faça de mim uma heroína sofrida a la Dostoievski . Fartei-me simplesmente e fiz-me à vida.
Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim. J.P. Sartre
O meu caminho (longo, posso garantir) foi trilhado pelo método tentativa-erro. Alguma falta de auto-conhecimento, muita desorganização, sem estratégia ou planeamento, e uma tendência aguda para a procrastinação. Foi no momento em que decidi assumir a responsabilidade por fazer de mim o que eu queria que tudo mudou.
Trabalho com pessoas há mais de dez anos, a gerir equipas, a formar e a desenvolver pessoas. No Coaching é onde sinto mais o impacto que faço no mundo. Podia só ter-me mudado a mim e ter parado por aí, mas há uma realização imensa no facto de ajudar os outros a transformarem as suas vidas. Reforça a cada cliente que esta é a minha missão. E reforça também a minha convicção de que tudo é possível.
Por isso, respondendo à questão “porque é que os coaches têm a mania de evangelizar o mundo” a verdade é que nós acreditamos. Nós transformamo-nos a cada sucesso no qual deixamos a nossa pequena marca. Nós recordamos cada história de vida, das grandes às pequenas, das inspiradoras às quotidianas, e dentro de nós há algo que nos impede de simplesmente passar ao lado quando vemos potencial à espera de um empurrãozinho.
É por isso.