Notas sobre a resistência à mudança e os zombies reais da vida.

Surpreende-me sempre que alguém resiste à mudança de imediato, como se o natural fosse permanecer imutável. Nem vou falar na heresia de mudar de clube desportivo, tendência política, ou religião — a santa trindade da imutabilidade — mas mudar de casa, de carreira, de namorado ou de ideias sobre a vida é o mínimo que espero de qualquer pessoa viva. Repito, viva.

Aquilo que tenho constatado incrédula é que os zombies são reais. As pessoas que vivem dias iguais uns a seguir aos outros sem emoção, as pessoas que empalidecem os sonhos por ordenados fixos no final do mês, as pessoas que arrasam tudo à sua passagem para chegar a algo que nem sequer querem, as pessoas que estão adormecidas na sua existência, no cumprimento de tarefas ou no pagamento de contas. Todos zombies reais.

E a culpa não é da tecnologia, não me lixem. A culpa é do que se faz com o que se tem. Ando de transportes públicos todos os dias. Às vezes leio, às vezes ouço podcasts, às vezes vejo videos e às vezes queimo as pestanas com jogos parvos. À minha volta só vejo esta última. Vivermos com o mundo na ponta dos dedos — literalmente — e distraírmo-nos com as coisas mais insignificantes é parte do que alimenta estes zombies.

A outra parte, a nível pessoal ou profissional pode ser condensada em três factores:

  1. Falta de confiança — pode ser na empresa, no país, no contexto sócio-económico, na senhora da padaria, ou auto-confiança. Independentemente das variáveis serem externas ou internas pessoas confiantes avançam. Aceitam e adaptam-se à realidade ao invés daqueles a quem a confiança falta, que preferem criar cenários dantescos antes mesmo de qualquer alteração ser colocada em prática.
  2. Medos adquiridos — do desconhecido, das reacções dos outros, do falhanço, e até do do sucesso. Para quem nasce apenas com dois medos inatos — de cair e de barulhos fortes — nós, humanos, fazemos um excelente trabalho ao coleccionar fobias sem questionar o seu fundamento.
  3. Comodismo — há uma citação maravilhosa que me resume o comodismo, enquanto motivo para a resistência à mudança, do autor Nassim Nicholas Taleb. Ele diz que: “Os três vícios mais prejudiciais são a heroína, carbohidratos e um salário mensal.” a primeira vez que li isto foi “murro no estômago” puro e duro. Quantos de nós adiamos sonhos, viagens, palavras… mudanças, presos ao vício de um salário mensal?

Viver é mudar, é adaptar, é evoluir e crescer. É ser melhor a cada dia que passa. É manter a curiosidade e o deslumbramento acesos por tudo aquilo que nos rodeia. Apesar da maioria das pessoas saber exactamente o que é preciso para mudar a verdade é que nem sempre o fazem. Pode faltar coragem, ajuda, impulso ou vontade. Mas desconhecimento e alternativas não.

O progresso é impossível sem mudança. E aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada. 

G.B. Shaw

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