Coach, mentor, formador, facilitador: é tudo a mesma coisa?

As fronteiras entre o trabalho de um coach, de um mentor, de um formador e de um facilitador tocam-se. Contudo são territórios distintos de actuação e que recorrem a métodos, ferramentas e sistemas bastante diferentes de uns para outros. Se não é tudo a mesma coisa, como saber então qual escolher e qual o mais adequado para cada situação?

Coach: ajudar o cliente a retirar as soluções de dentro de si mesmo

Um coach estabelece uma relação de parceria com vista a obter resultados numa determinada área da vida pessoal, profissional ou das empresas. A sua acção principal é feita através de perguntas cujo intuito é desbloquear o cliente a chegar às respostas por si mesmo. Não existe condicionamento das opções tomadas, nem julgamento sobre as decisões ou lugar para aconselhamento.

Num processo de coaching a relação tem príncipio, meio e fim, em que o horizonte temporal é claramente definido. Todas as ferramentas utilizadas para desbloquear o cliente ficam com ele para que de forma autónoma as possa aplicar noutras áreas. Um factor importante no coaching é que o trabalhado é a forma, não o conteúdo, por isso o Coach pode saber zero sobre a área do cliente que a eficácia do processo continua garantida.

Um coach é um treinador mental que nos alerta, desafia e suporta para o nosso discurso interno, as nossas crenças e para os nossos compromissos. É alguém que celebra connosco as vitórias e que foca o cliente no feedback quando as coisas correm menos bem.

A coach is someone who tells you what you don’t want to hear, who has you see what you don’t want to see, so you can be who you have always known you could be. – Tom Landry

Tom Landry

Mentor: aconselhar, guiar, e inspirar o outro

Um mentor é alguém, usualmente com um perfil mais sénior que partilha experiência, aconselha e direciona. Na mentoria o conteúdo é parte do processo. Os conhecimentos, as experiências e o percurso contam. Pode ser um professor, um chefe um colega, um avô, ou até um autor que inspire e do qual se retirem aprendizagens para a própria vida.

Algumas das características fundamentais para um mentor:

Curiosidade: ser curioso na sua própria vida leva a procurar diferentes pontos de vista e soluções para o mesmo problema. Isto cria novas perspectivas, incentiva a procura de alternativas e estimula uma mentalidade de crescimento permanente

Coragem: ser corajoso num duplo sentido para dentro e para fora. Para dentro porque o mentor tem de ser o primeiro a analisar as suas falhas e os seus fracassos. É da superação dos seus momentos mais delicados e da experiência deles retirada que se consolida a maturidade pessoal e profissional necessárias para este papel.

Para fora porque cabe muitas vezes ao mentor forçar as conversas difíceis que são necessárias para impulsionar o crescimento do mentee.

Generosidade: ser mentor é dar de si abertamente e sem limites. É estar preparado para ser apenas uma questão de tempo até ser igualado ou mesmo ultrapassado pelo mentee e ficar orgulhoso e não ressentido por isso.

Esta relação permite ao mentor deixar o seu legado e a sua influência no mentee.  É bastante utilizada em percursos de sucessão dentro das organizações. Nos últimos anos os programas de mentoria para liderança, novas empresas ou empresários em nome individual também tem vindo a aumentar, consequência do fenómeno das startups em Portugal.

The delicate balance of mentoring someone is not creating them in your own image, but giving them the opportunity to create themselves.

Steven Spilberg

Formador: garantir a aprendizagem e a actualização de conhecimentos

O papel de um formador começa muito antes de entrar em sala, real ou virtual. De maneira genérica as principais áreas de responsabilidade são 3: a preparação e o planeamento da formação, a acção formativa propriamente dita e a avaliação final.

No antes é necessário fazer um levantamento de necessidades, um dossier pedagógico e cumprir uma série de requisitos muito pouco sexys, mas importantes. No depois existem mais formalidades a cumprir, relacionadas com avaliações, cumprimento de objectivos e outras.

Entre o antes e o depois é onde acontece toda a magia. As características de um bom formador estão amplamente difundidas, catalogadas e enumeradas. Um formador pode ter todas elas em diferentes níveis e fazer um trabalho contínuo de melhoria. Há uma no entanto que se não estiver lá, mais vale mudar de carreira: a paixão pela formação.

É preciso ter paixão para aprender permanentemente, para inovar, para procurar os recursos certos, para gerir grupos diferentes, comportamentos diferentes, para estar motivado e motivar, para agarrar os formandos e para acrescentar valor.

The illiterate of the 21st century will not be those who cannot read and write, but those who cannot learn, unlearn, and relearn.

Alvin Toffler

Facilitador: tornar fácil o difícil, o difuso e o disperso

Na prática é alguém que a partir de uma posição neutra leva um grupo de pessoas com pelo menos uma coisa em comum a alcançar os seus objectivos. Podem ser equipas, famílias, atletas, ou grupos de pessoas ligadas por algo – uma associação, um grupo de jovens, um sindicato, etc.

O facilitador recorre a variadas ferramentas para ajudar o grupo a partilhar ideias, tomar decisões, chegar a acordos e a implementar planos de acção. Podem ser dinâmicas de grupo, brainstorming, Lego play, serious games e jogos de tabuleiro, ideação, entre muitas outras.

Funciona também como barómetro do grupo no decorrer das actividades ao garantir que todos são ouvidos. Estabelece um ambiente de confiança e de cooperação e provoca a discussão deixando de fora a sua inferência pessoal.

É algo entre um árbitro e um apoiante da única equipa em campo. Existem facilitadores especializados em várias áreas: aprendizagem, colaboração, criatividade, resolução de conflitos, ou meditação para dar alguns exemplos.

Any intelligent fool can make things bigger and more complex… It takes a touch of genius — and a lot of courage to move in the opposite direction.

Albert Einstein

Simplificando:

Coach

  • Usa perguntas abertas
  • Potencia a auto-descoberta
  • Desmonta crenças negativas
  • Pode ser usado em qualquer área de vida
  • Foca-se no futuro

Mentor

  • Faz perguntas directas
  • Fornece informação, abre caminhos
  • Procura alternativas
  • Guia, direcciona e aconselha
  • Baseia-se na experiência

Formador

  • Direcciona as perguntas
  • Transmite informação pré-seleccionada
  • Procura respostas específicas
  • Altamente estruturado na maioria dos casos
  • Avalia resultados obtidos

A grande particularidade da facilitação e do trabalho do facilitador é que, para além de ser específico e funcionar de forma autónoma, quando incluído no coaching, na mentoria e na formação ele potencia os resultados obtidos.

Competências para a Facilitação

  • Escuta Activa
  • Levantar Questões
  • Resolução de Problemas
  • Mediação de Conflitos
  • Aceitação do Outro
  • Empatia
  • Liderança

Coach, mentor, formador e facilitador não são a mesma coisa. Quando escolher um ou outro depende do contexto em si, dos objectivos a alcançar, do orçamento, das pessoas envolvidas e de inúmeros outros factores externos.

No que toca aos factores internos, se cada um de nós melhorar as suas competências como facilitador é seguro dizer que estaremos a fazer a nossa parte para tornar o mundo um lugar melhor.

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